31/03/2011


Eu que me Aguente Comigo

Contudo, contudo,
Também houve gládios e flâmulas de cores
Na Primavera do que sonhei de mim.
Também a esperança
Orvalhou os campos da minha visão involuntária,
Também tive quem também me sorrisse.
Hoje estou como se esse tivesse sido outro.
Quem fui não me lembra senão como uma história apensa.
Quem serei não me interessa, como o futuro do mundo.

Caí pela escada abaixo subitamente,
E até o som de cair era a gargalhada da queda.
Cada degrau era a testemunha importuna e dura
Do ridículo que fiz de mim.

Pobre do que perdeu o lugar oferecido por não ter casaco limpo com que aparecesse,
Mas pobre também do que, sendo rico e nobre,
Perdeu o lugar do amor por não ter casaco bom dentro do desejo.
Sou imparcial como a neve.
Nunca preferi o pobre ao rico,
Como, em mim, nunca preferi nada a nada.

Vi sempre o mundo independentemente de mim.
Por trás disso estavam as minhas sensações vivíssimas,
Mas isso era outro mundo.
Contudo a minha mágoa nunca me fez ver negro o que era cor de laranja.
Acima de tudo o mundo externo!
Eu que me aguente comigo e com os comigos de mim.

- Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa
Não posso adiar para outro século a minha vida
Nem o meu amor
Nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração


- António Ramos Rosa

30/03/2011



All my life, I have been in love with the sky. Even when everything was falling apart around me, the sky was always there for me.
- Yokoono

Tenho um decote pousado no vestido e não sei se voltas,
mas as palavras estão prontas sobre os lábios como
segredos imperfeitos ou gomos de água guardados para o verão.
E, se de noite as repito em surdina, no silêncio
do quarto, antes de adormecer, é como se de repente
as aves tivessem chegado já ao sul e tu voltasses
em busca desses antigos recados levados pelo tempo:


Vamos para casa? O sol adormece nos telhados ao domingo
e há um intenso cheiro a linho derramado nas camas.
Podemos virar os sonhos do avesso, dormir dentro da tarde
e deixar que o tempo se ocupe dos gestos mais pequenos.


Vamos para casa. Deixei um livro partido ao meio no chão
do quarto, estão sozinhos na caixa os retratos antigos
do avô, havia as tuas mãos apertadas com força, aquela
música que costumávamos ouvir no inverno. E eu quero rever
as nuvens recortadas nas janelas vermelhas do crepúsculo;
e quero ir outra vez para casa. Como das outras vezes.


Assim me faço ao sono, noite após noite, desfiando a lenta
meada dos dias para descontar a espera. E, quando as crias
afastarem finalmente as asas da quilha no seu primeiro voo,
por certo estarei ainda aqui, mas poderei dizer que, pelo
menos uma ou outra vez, já mandei os recados, já da minha
boca ouvi estas palavras, voltes ou não voltes.




- Maria do Rosário Pedreira

29/03/2011


I see you everywhere, in the stars, in the river, to me you’re everything that exists; the reality of everything.
— Virginia Woolf, Night And Day

Sabe que atravessou uma fronteira mas não sabe dizer qual. Se alguém lhe perguntasse faria um esforço e talvez encontrasse não a resposta certa mas uma possível que calasse a pergunta. Mas não há quem lhe pergunte. Vai até ao espelho do quarto de banho e olha a sua cara. Tão estranho ter-se uma cara. O lugar dos olhos. O desenho dos lábios. A cor da pele. Passa água fresca sobre a cara. Não se seca com a toalha que está mesmo ao seu lado direito. Continua a olhar-se com a cara molhada. O que nos une é uma mesma ignorância. É uma frase que lhe vem com frequência à cabeça nas últimas semanas.
A sua vida parece-lhe a de uma outra pessoa. Talvez seja isso. Não poder reconhecer-se por completo no que faz, diz, deseja. Uma crescente discrepância. Uma diminuta, mas perceptível, perda de nitidez nos contornos. Como se a sua verdadeira vida se tivesse despegado da vida que leva e, com o tempo, a distância entre elas fosse aumentando e a reconciliação se tornasse cada vez mais improvável. Uma pessoa não é quem quer ser, não faz o que gostava mais do que tudo fazer, não dita a vida que a leva consigo. Talvez seja isso. O que acontece desde sempre quase sempre a qualquer um. Salvo nos momentos de paixão em que vivemos a tremenda certeza de estarmos a ser quem somos. Não é preciso que seja uma pessoa.
 
- excerto "Rosa Vermelha em Quarto Escuro", de Pedro Paixão

28/03/2011


Perfeita
se eu não fosse doida,
se eu não fosse masoquista,
se eu não fosse insegura,
se eu não fosse daqui,
se eu não fosse feita de pele,
se eu não fosse tolerante,
se eu não fosse idiota,
se eu não fosse cega,
se eu não fosse feita de coração,
se eu não fosse, teria ido embora quando senti vontade, quando quebraste um sonho em meio, quando acordei e não sabia o que fazer, mas quando apetece, apetece, e fiquei, e ainda bem que fiquei, porque
se eu fosse eu seria perfeita,
e eu não quero ser perfeita.

http://muse-sempudor.blogspot.com/

Desta fuga (do eu e do nós no isso) fazia parte o lado de Einstein que brincava e se ria permanentemente. O seu riso frequente e retumbante sobre si mesmo, assim como sobre muitos temas existenciais, e o seu hábito de comentar os factos com humor, eram uma expressão da sua forma de lidar com a vida. Na psicologia diz-se que a fuga pelo humor possibilita a distância e evita o envolvimento próximo e emocional. No riso de Einstein encontrar-se-á uma chave para a sua personalidade.

-  Excerto de biografia Albert Einstein

26/03/2011

Queen Elizabeth I: Are you here to tell me I must murder a Queen?
Sir Walter Raleigh: I would never presume to tell my Queen what to do. Only you know where your duty lies.
Queen Elizabeth I: Was it my father's duty to murder my mother? She was a Queen, for a time. Oh, I would be loath to die such so bloody a death.
Sir Walter Raleigh: Since when were you so afraid?
Queen Elizabeth I: I'm always afraid.
Sir Walter Raleigh: Kill a Queen and all Queens are mortal. We mortals have many weaknesses: we feel too much, hurt too much, all too soon we die, but we do have the chance of love.
Queen Elizabeth I: Do we? I have given England my life. Must she also have my soul?


- Elizabeth: The Golden Age (2007)
O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
...Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.

Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.

Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.

- Alberto Caeiro

25/03/2011

"A dor que não ajuda ninguém é absurda"  - André Malraux
A Vida

A vida, as suas perdas e os seus ganhos, a sua
mais que perfeita imprecisão, os dias que contam
quando não se espera, o atraso na preocupação
dos teus olhos, e as nuvens que caíram
mais depressa, nessa tarde, o círculo das relações
a abrir-se para dentro e para fora
dos sentidos que nada têm a ver com círculos,
quadrados, rectângulos, nas linhas
rectas e paralelas que se cruzam com as
linhas da mão;

a vida que traz consigo as emoções e os acasos,
a luz inexorável das profecias que nunca se realizaram
e dos encontros que sempre se soube que
se iriam dar, mesmo que nunca se soubesse com
quem e onde, nem quando; essa vida que leva consigo
o rosto sonhado numa hesitação de madrugada,
sob a luz indecisa que apenas mostra
as paredes nuas, de manchas húmidas
no gesso da memória;

a vida feita dos seus
corpos obscuros e das suas palavras
próximas.

Nuno Júdice, in "Teoria Geral do Sentimento"

24/03/2011


o meu vizinho nunca diz palavras de amor à mulher
entra em casa pela janela e não pela porta
por uma porta entra-se em muitos sítios
no trabalho, no quartel, na prisão,
em todos os edifícios do mundo
...mas não no mundo
nem numa mulher, nem na alma
quer dizer, nessa caixa ou nave ou chuva que chamamos assim
como hoje, que chove muito
e me custa escrever a palavra amor
porque o amor é uma coisa e a palavra amor é outra coisa
e só a alma sabe onde as duas se encontram

[Juan Gelman in "No avesso do mundo" - prémio Cervantes 2007]

23/03/2011

"A frase mais triste de qualquer língua: o que poderia ter sido."

Luis Fernando Veríssimo

Belos e Malditos - o feitiço


a sua presença no ar, sinto-a.
como se os anjos soprassem aos meus ouvidos que tudo que desejo está vindo ter comigo.
suave.
vejo-a.
como se tudo que estivesse à minha volta se tornasse num imenso manto secreto, onde cada passo seu, luz como a sua alma.
beijo-a, com todo o fervor.
a minha alma não suporta mais a distância.
engulo-a.
sinto o seu corpo colar-se ao meu.
quente.
passo a respirá-la, ela respira-me.
a ter-te, a te ter.
e quero-te mais, a cada dia mais.
sinto o teu corpo ferver nas minhas mãos.
queimando.
sinto-te cada vez mais.
beijo-te.
as minhas mãos deslizam suavemente por cada parte do teu corpo.
secreto.
acaricio suavemente os teus mamilos.
duros.
as minhas mãos já fazem parte de ti.
exploro o teu corpo, cada resquício, cada ponto…
abraço-te, levemente, para que a minha alma sinta a tua.
os nossos corpos nus, sedentos.
tesão.
o cérebro não já não controla.
perco-me em ti, só te sinto.
cada vez mais.
entro dentro de ti, como um faminto, voraz.
somos um só.
uma união perfeita, linda, quente, duro, tesão, beijos, carícias, gemidos, prazer, reteso o meu corpo, retenho-me.
o teu suor junta-se ao meu, a minha mão conduz a tua até à minha boca.
mordo-te os dedos para não gritar.
sinto enfim os movimentos descoordenados do teu corpo.
sacio-te.
sacio-me.


Belos e Malditos





21/03/2011

Ela disse: definitivamente obsessivo.
Ele disse: obsessivamente delicioso.
Arriscaram o coro: deliciosamente definitivo?

(mas queriam algo novo)

Em uníssono e numa palavra gritaram:
- Simples: é simplesmente precioso

O medo é muitas vezes o muro que impede as pessoas de fazerem uma série de coisas. Claro que o medo também pode ser positivo, em certa medida ajuda a que se equilibrem alguns elementos e se tenham certas coisas em consideração, mas na maior parte dos casos é negativo, é algo que nos faz mal. (...) O pior medo é o medo de nós próprios e a pior opressão é a auto-opressão. Antes de se tentar lutar contra qualquer outra coisa, penso que é importante lutarmos contra ela e conquistarmos a liberdade de não termos medo de nós próprios.

José Luís Peixoto, in 'Diário de Notícias (2003)'
Morrer de amor
ao pé da tua boca

Desfalecer
à pele
do sorriso

Sufocar
de prazer
com o teu corpo

Trocar tudo por ti
se for preciso
- Maria Teresa Horta

18/03/2011

Universo desalinhado

e o Capuchinho Vermelho esperou, esperou
na beira da floresta escura,
pelo Lobo Mau que afinal era bom,
que afinal, não era só body mas também soul,
...
do outro lado do arvoredo,
o Lobo Mau (que afinal era bom) dormia profundamente
no colo da Branca de Neve,
depois de ter trincado a maça perfumada
que estava "embruxada"
...
aflita, a Branca de Neve pensava
que se não repousasse o suficiente, no seu eterno sono de juventude,
o Príncipe não a viria beijar
e em vez da pele branca encontraria uma
pele enrugada de preocupações
...
horrorizado, o Príncipe - que era um pouco tonto -,
olhava o espelho mágico que não percebia estar quebrado,
e, no lugar do seu reflexo,
encontrava o feio mas terno Monstro
...
nas mãos do Monstro, brilhava o sapatinho de cristal
da Gata Borralheira, que os sete anões irados
teimavam em guardar na pedreira,
resguardando-se para melhores dias
...
...
neste Universo tão desalinhado,
de estrelas e planetas sem contexto,
Capuchinho Vermelho sabia que nunca encontraria o seu Amor
- o que fazer? perguntava-se.

17/03/2011

I

Glorifiquei-te no eterno.
Eterno dentro de mim
fora de mim perecível.
Para que desses um sentido
a uma sede indefinível.

Para que desses um nome
à exactidão do instante
do fruto que cai na terra
sempre perpendicular
à humidade onde fica.

E o que acontece durante
na rapidez da descida
é a explicação da vida.

II

Harmonioso vulto que em mim se dilui.
Tu és o poema
e és a origem donde ele flui.
Intuito de ter. Intuito de amor
não compreendido.
Fica assim amor. Fica assim intuito.
Prometido.

III

Príncipe secreto da aventura
em meus olhos um dia começada e finita.
Onda de amargura numa água tranquila.
Flor insegura enlaçada no vento que a suporta.
Pássaro esquivo em meus ombros de aragem
reacendendo em cadência e em passagem
a lua que trazia e que apagou.

IV

Dá-me a tua mão por cima das horas.
Quero-te conciso.
Adão depois do paraíso
errando mais nítido à distância
onde te exalto porque te demoras.

V

Toma o meu corpo transparente
no que ultrapassa tua exigência taciturna
Dou-me arrepiando em tua face
uma aragem nocturna.

Vem contemplar nos meus olhos de vidente
a morte que procuras
nos braços que te possuem para além de ter-te.

Toma-me nesta pureza com ângulos de tragédia.
Fica naquele gosto a sangue
que tem por vezes a boca da inocência.

VI

Aumentámos a vida com palavras
água a correr num fundo tão vazio.
As vidas são histórias aumentadas.
Há que ser rio.

Passámos tanta vez naquela estrada
talvez a curva onde se ilude o mundo.
O amor é ser-se dono e não ter nada.
Mas pede tudo.

VII

Tu pedes-me a noção de ser concreta
num sorriso num gesto no que abstrai
a minha exactidão em estar repleta
do que mais fica quando de mim vai.

Tu pedes-me uma parcela de certeza
um desmentido do meu ser virtual
livre no resultado de pureza
da soma do meu bem e do meu mal.

Deixa-me assim ficar. E tu comigo
sem tempo na viagem de entender
o que persigo quando te persigo.

Deixa-me assim ficar no que consente
a minha alma no gosto de reter-te
essencial. Onde quer que te invente.

VIII

Eis-me sem explicações
crucificada em amor:
a boca o fruto e o sabor.

IX

Pusemos tanto azul nessa distância
ancorada em incerta claridade
e ficamos nas paredes do vento
a escorrer para tudo o que ele invade.

Pusemos tantas flores nas horas breves
que secam folhas nas árvores dos dedos.
E ficámos cingidos nas estátuas
a morder-nos na carne dum segredo.

Natália Correia, in "Poemas (1955)"

16/03/2011


DO LIVRO DOS AMANTES


A hora, era a combinada. Empurrei a porta do café e entrei segura da missão que me levava até ali. O café era pequeno, iluminado pela luz exterior que entrava pelos vidros enormes, que davam para a rua. Tinha pouca gente, digamos que um número de clientes Q.B..
Já no interior, parei junto à porta e procurei-te com o olhar. Vi-te. Estavas numa mesa do canto, encostado à vidraça. Esperavas-me, como combinado. Baixei a cabeça, um sorriso entreabriu-me os lábios - mordi-me para não soltar uma gargalhada. Feliz. Estava feliz.
Trazia um fato cinza. A saia era justa e curta. O casaco era igualmente curto e não adivinhava blusa por debaixo, parecia assentar directamente sobre a pele. Estava de saltos, uns " Manolo´s" pretos, que ao caminhar mostravam um rasto vermelho de desejo e paixão. Eram o prenúncio de algo...
Segui por um corredor de mesas em tua direcção. O teu corpo moveu-se na cadeira, o teu olhar brilhou e vi um meio sorriso no teu rosto impassível. Percebi que te preparavas para levantar e cumprimentar.
Mas eu antecipei-me. No mesmo corredor, três mesas antes, sentei-me. Percebi o teu olhar de surpresa mas disfarças-te-a bem, como sempre. Sorriste, aparentemente, agradado com a presença de uma mulher interessante, que tinha entrado pela porta do café.
Percebi que percebeste, que o jogo ia começar (sim, sim, a menina gosta de brincar...). Simpaticamente, fiz sinal ao empregado de mesa, pedi um café pingado e uma água sem gás natural, e abri o jornal pousado na beira da mesa.
Finalmente olhei na tua direcção. O meu olhar cruzou-se com o teu, e segurei-o. Estavas recostado na cadeira e aparentemente divertido com a situação.
De olhos nos olhos, endireitei-me na cadeira, obrigando os meus seios a forçar o tecido do casaco curto. Inspirei, expirei. Sorri. Estava sentada de lado para ti, pernas cruzadas.
Lentamente puxei a saia curta um pouco mais para cima, de modo a que visses o rendilhado das meias que terminavam um pouco antes das coxas...
Discretamente mordi os lábios e voltei a mexer o corpo na cadeira, como que a tentar sentar-me bem no seu (teu) centro.
De forma casual, virei o meu corpo na direcção do teu. Agora, estávamos frente a frente, no corredor de mesas, com o ângulo de visão completamente livre. Retirei as pernas debaixo da mesa, descruzei-as e abri-as ligeiramente.
O teu olhar permanecia divertido, curioso. Seguiste a linha das pernas, percebeste o interior das coxas e, bem no fundo, o meu SEXO… nu, depilado, húmido. Ficaste estupefacto…
Mexeste-te na cadeira. Sim, isso mesmo. Queria ver-te com tesão. Duro, com vontade de me ter, ali, ofegante, suplicante, obediente - e a saberes que não me podias ter.
Voltei a mexer-me na cadeira. Endireitei novamente o corpo como se esticasses as costas. Queria que percebesses que simulava discretamente, o momento em que me sento no teu sexo, ávida de ti e me movo em busca de prazer, o nosso prazer.
Entretanto o café e a água chegaram. Óptimo. Bebi-os rapidamente. Paguei. Levantei-me e fui em direcção à porta. Antes, olhei demoradamente - manifestamente – para ti. Quem estava no café, perceberia que o meu olhar era de sedução. Cumprimentei-te e saí. Entrei no meu carro, tirei-o do estacionamento e aguardei com os “piscas” ligados, próxima do teu. Minutos depois saíste. Olhaste de esguelha a confirmar a minha presença, sorriste, abriste a porta do carro, entraste, ignição, pisca e saímos para a estrada.
No início íamos devagar, tu na frente, eu no teu encalço, colada a ti. Depressa, cada vez mais depressa, saímos da estrada principal, entrámos em estradas secundárias e depois de terra batida.
A estrada corria junto à praia e o tempo estava enevoado. Paraste num sítio seguro, com vista para o mar e parei ao teu lado. Saí do carro e caminhei na tua direcção. Aguardavas parado, do lado de fora do carro, junto à porta do condutor.
Olhei-te. Agora queria-te dentro de mim, rápido, o mais rápido possível. Sentir, a ti e ao prazer que me dás sempre... caminhava para ti, e sentia-me húmida... cheia de tesão...
Parei junto a ti. Estávamos frente a frente, sorríamos um para o outro. Encostei o meu corpo, ao teu corpo imóvel – percebi que ias obrigar-me a implorar. Estiquei-me e beijei a tua boca.
O beijo foi bom, longo, demorado, quente, intenso... as minhas mãos começaram a procurar o teu corpo mas agarraste-me os pulsos. Soltaste as mãos, agarraste a minha cintura e viraste-me de frente para o carro. Empurraste o meu corpo para a frente, prendeste-o com o teu e com as tuas mãos livres, subiste-me a saia.
- Minha putinha gostosa, sussuraste ao meu ouvido...
Next time...

Da próxima vez quero:
- ligas, com cinto.
- conduzir eu.
- embrenhar-me em ti.
- que tu é que me sintas o pescoço.
- que tu é que me puxes para ti.
- que a vontade seja maior que os medos.
- sentir-te o corpo dessa mente que me magnetiza.
- sentires-me este todo que sou.
- saber como se materializa o teu desejo.
- que agarrares no meu.
- provar-te, entrar em ti, sentir-te.
- Que me sintas, inteiro.

Não é (apenas) teu corpo que quero sentir;
Quero sentir-te de ponta a ponta. Corpo e mente.
Como se exprime a mente desse corpo;
Como se revela o corpo nessa mente;
Não quero ser uma dose mortal;
Quero ser A dose.
A que me inspiras e mereces.
A que descobriste.
Ousas ter o que descobriste em mim?

Aguentas?

http://ousadiasdemim.blogspot.com/

15/03/2011

Intermitências Scrapbook


March 15, 2011

5 de Setembro de 2007 - a história d’eles

dentro e fora, fora e dentro
compassado ou rápido e brutal .
- quero tudo aceso. quero ver-te!
- sou bruto, ás vezes.  gosto assim, ás vezes.
as roupas espalhadas pelo chão.
eu, dentro dela.
- dá-me! dá-me!
- tudo. quero-te dentro de mim, fundo. fundo.

agarro-lhe os cabelos, puxo-lhe a cabeça para trás, enquanto a minha língua
lhe percorre o pescoço, o rio entre os seios.
as suas unhas cravam-se traçando linhas nas minhas costas,
a devorar-me, a possuir-me, a dizer-me que eu era dela.

- marco-te! marco-te para sempre.
- marca-me.

o meu pénis enterra-se vezes sem conta, duro como ferro, tentando magoá-la,
rebentar com ela.

- não te admito. não te admito que me traias.

o riso no meu ouvido, os dentes a cravarem-se-me na boca, gemi exausto de dor e prazer.

- tu gostas! tu gostas!

e eu a mergulhar, a nadar na humidade dela.
parei, desejei poder parar de vez, sair dela, romper com ela.
ela vibrava, arqueava o corpo, procurava-me.

- quero-te a ti a mais ninguém
- dá-me os teus pensamentos, gritei-lhe, quero saber tudo.

beijei-a, mordia-a, respirei o seu hálito.
desejei matá-la, possui-la e matá-la,
asfixiá-la com a minha boca, morrer com ela.
senti os seus espasmos, as ondas de calor trespassarem-me.
abracei-a com força, enquanto sentia o prazer em todos os pontos do meu corpo.
ejaculei sabendo que nunca a poderia apanhar de surpresa.
penetrá-la sem que ela quisesse. violá-la. magoá-la.
ela estava sempre á minha espera,
estaria sempre à minha espera.

Belos e Malditos

http://www.facebook.com/home.php#!/note.php?note_id=175462119163797


14/03/2011

- Adeus, disse ele...
- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fêz tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...
- Eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar."

O Principezinho, Antoine de Saint-Exupéry

11/03/2011

Um espírito corajoso e grande é reconhecido principalmente devido a duas características: uma consiste no desprezo pelas coisas exteriores, na convicção de que o homem, independentemente do que é belo e conveniente, não deve admirar, decidir ou escolher coisa alguma nem deixar-se abater por homem algum, por qualquer questão espiritual ou simplesmente pela má fortuna. A outra consiste no facto - especialmente quando o espírito é disciplinado na maneira acima referida - de se dever realizar feitos, não só grandes e seguramente, bastante úteis, mas ainda em grande número, árduos e cheios de trabalhos e perigos, tanto para a vida como para as muitas coisas que à vida interessam.
Todo o esplendor, toda a dimensão (devo acrescentar ainda a utilidade), pertencem à segunda destas duas características; porém, a causa e o princípio eficiente, que os tornam homens grandes, à primeira.
Naquela está, com efeito, aquilo que torna os espíritos excelentes e desdenhosos das coisas humanas. Na verdade, pode isto ser reconhecido por duas condições: em primeiro lugar, se estimares alguma coisa como sendo boa unicamente porque é honesta, em segundo lugar, se te encontrares livre de toda a perturbação de espírito. Consequentemente, o facto de se ter em pouca conta aquelas coisas humanas e de se desprezar, com uma atitude de espírito firme e sólida, essas mesmas coisas, que a muitos parecem ilustres e exímias, deve constituir apanágio de uma alma grande e corajosa. Suportar aquilo que parece acerbo, que de muitas e variadas maneiras aflige a vida e a sorte dos homens (de modo por assim dizer a não renunciares à ordem natural e à dignidade do sábio), é próprio de um espírito robusto e de grande constância.

Marcus Cícero, in 'Dos Deveres'

07/03/2011


Sem Pudor: "crazy horse": "Christian Bale by Ellen von Unwerth"
Não confundas o amor com o delírio da posse, que acarreta os piores sofrimentos. Porque, contrariamente à opinião comum, o amor não faz sofrer. O instinto de propriedade, que é o contrário do amor, esse é que faz sofrer. (...) Eu sei assim reconhecer aquele que ama verdadeiramente: é que ele não pode ser prejudicado. O amor verdadeiro começa lá onde não se espera mais nada em troca.

 
- O Principezinho, Antoine de Saint-Exupéry

04/03/2011

Underworld - Born Slippy .Nuxx

Joelho

Ponho um beijo
demorado
no topo do teu joelho

Desço-te a perna
arrastando
a saliva pelo meio

Onde a língua
segue o trilho
até onde vai o beijo

Não há nada
que disfarce
de ti aquilo que vejo

Em torno um mar
tão revolto
no cume o cimo do tempo

E os lençóis desalinhados
como se fosse
de vento

Volto então ao teu
joelho
entreabrindo-te as pernas

Deixando a boca
faminta
seguir o desejo nelas.

- Maria Teresa Horta

Conversas de Amigas...

- Fiz quinze anos de casada
- Já?
- Sim, sim, é uma vida. Nem queria acreditar.
- Pois, pois, é uma vida…
- De manhã estávamos na cama. O relógio despertou-nos. Ele virou-se para mim, deu-me os parabéns, um  abraço e um beijo carinhoso.
- Simpático!
- Eu estava deitada de barriga para baixo, o meu rosto virado na direcção contrária ao d ´ Ele.  Os meus olhos ficaram cheios de lágrimas. Pensei: quinze anos!... quinze anos de quê? A minha vontade foi dizer-lhe: olha, não quero mais isto... mas engoli a tristeza e devolvi o beijo: - “Parabéns” respondi.
- É uma situação lixada.
- Cansei-me da vida de sofá, televisão e futebol. Em 15 anos nunca me ofereceu uma flor, um jantar, uma surpresa. As férias que passámos juntos foi porque tomei a iniciativa...  e contam-se pelos dedos das mãos.
(silêncio)
- Há 15 anos, vesti-me para um casamento mas na verdade, estava-me a vestir para um enterro… para o meu próprio enterro. Acho que deve ser isto o casamento...
(rimos, como rimos sempre)

02/03/2011

Liz: "A friend took me to the most amazing place the other day. It's called the Augusteum. Octavian Augustus built it to house his remains. When the barbarians came they trashed it a long with everything else. The great Augustus, Rome's first true great emperor. How could he have imagined that Rome, the whole world as far as he was concerned, would be in ruins. It's one of the quietest, loneliest places in Rome. The city has grown up around it over the centuries. It feels like a precious wound, a heartbreak you won't let go of because it hurts too good. We all want things to stay the same. Settle for living in misery because we're afraid of change, of things crumbling to ruins. Then I looked at around to this place, at the chaos it has endured - the way it has been adapted, burned, pillaged and found a way to build itself back up again. And I was reassured, maybe my life hasn't been so chaotic, it's just the world that is, and the real trap is getting attached to any of it. Ruin is a gift. Ruin is the road to transformation." 

- From «Eat Pray Love»