28/07/2011

 

 
Ao longo da muralha que habitamos
Há palavras de vida há palavras de morte
Há palavras imensas,que esperam por nós
E outras frágeis,que deixaram de esperar
Há palavras acesas como barcos
E há palavras homens,palavras que guardam
O seu segredo e a sua posição

Entre nós e as palavras,surdamente,
As mãos e as paredes de Elsenor

E há palavras e nocturnas palavras gemidos
Palavras que nos sobem ilegíveis À boca
Palavras diamantes palavras nunca escritas
Palavras impossíveis de escrever
Por não termos connosco cordas de violinos
Nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
E os braços dos amantes escrevem muito alto
Muito além da azul onde oxidados morrem
Palavras maternais só sombra só soluço
Só espasmos só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
E entre nós e as palavras, o nosso dever falar.

- Mário Cesariny
 
 
" — Quando se trata de sensualidade — diz Henry — , tu és quase mais sensual do que June. Porque ela pode ser um esplêndido animal quando se está com ela nos braços, mas depois, nada. Ela é fria, dura até. O teu sexo permeia o teu espírito, passa a seguir para a cabeça. Tudo o que pensas é quente. Tu estás constantemente quente. A única coisa é que tens um corpo de garota. Mas que poder que tens de manter a ilusão. Tu sabes como os homens se sentem depois de terem tido uma mulher. Ficam com vontade de lhes dar um pontapé para fora da cama. Contigo, depois de tudo o ambiente fica tão alto como antes."

[ Anaïs Nin in «Henry e June»]