28/04/2012
BELOS E MALDITOS: a história d'eles - sweet tides
olhos em derrames de faiscantes desejos
pré-orgásticos, semicerrados, dormentes.
é agora o instante, o orgasmo dela.
uma certa vaidade infantil e transcendente
eu sou o homem dela eu sou o orgasmo dela.
como se assim de repente lhe oferecesse um poema de amor
como se assim de repente fosse o seu ritual profano.
o instante é dela e eu sinto uma certa vaidade transcendente,
sou o orgasmo dela. sou o homem dela.
o amor dela sou eu, o desejo dela sou eu, o prazer dela sou eu.
infinitamente mais belo do que sonhado em tempos de menino,
mais doce do que jamais imaginado. com esperas. arrepios.
ouso dizer que a amo. fui claro. amo-te. fui claro.
27/04/2012
“You have a right to experiment with your life. You will make mistakes. And they are right too. No, I think there was too rigid a pattern. You came out of an education and are supposed to know your vocation. Your vocation is fixed, and maybe ten years later you find you are not a teacher anymore or you’re not a painter anymore. It may happen. It has happened. I mean Gauguin decided at a certain point he wasn’t a banker anymore; he was a painter. And so he walked away from banking. I think we have a right to change course. But society is the one that keeps demanding that we fit in and not disturb things. They would like you to fit in right away so that things work now.”
— Anaïs Nin
17/04/2012
«Nunca mais me digas que és fria e que não encontras as palavras certas; tu escreves de uma forma tão doce, as tuas cartas são tão ternurentas que a única forma de lhes responder seria com um longo beijo, envolvendo-te nos meus braços. Espero que um dia seja apenas uma memória agradável a ansiedade que eu tinha por ti e o facto de não conseguir acreditar que virias a ser minha. Eu nem me atrevo a pensar muito nisto, pelo medo que tenho que não consiga aguentar uma espera tão longa e me derreta por completo até que se concretize a nossa união»
- Carta de Sigmund Freud a Martha Bernays (excerto).
- Carta de Sigmund Freud a Martha Bernays (excerto).
16/04/2012
Há cidades cor de pérola onde as mulheres
existem velozmente. Onde
às vezes param, e são morosas
por dentro. Há cidades absolutas,
trabalhadas interiormente pelo pensamento
das mulheres.
Lugares límpidos e depois nocturnos,
vistos ao alto como um fogo antigo,
ou como um fogo juvenil.
Vistos fixamente abaixados nas águas
celestes.
Há lugares de um esplendor virgem,
com mulheres puras cujas mãos
estremecem. Mulheres que imaginam
num supremo silêncio, elevando-se
sobre as pancadas da minha arte interior.
Há cidades esquecidas pelas semanas fora.
Emoções onde vivo sem orelhas
nem dedos. Onde consumo
uma amizade bárbara. Um amor
levitante. Zona
que se refere aos meus dons desconhecidos.
Há fervorosas e leves cidades sob os arcos
pensadores. Para que algumas mulheres
sejam cândidas. Para que alguém
bata em mim no alto da noite e me diga
o terror de semanas desaparecidas.
Eu durmo no ar dessas cidades femininas
cujos espinhos e sangues me inspiram
o fundo da vida.
Nelas queimo o mês que me pertence.
o minha loucura, escada
sobre escada.
MuIheres que eu amo com um desespero
fulminante, a quem beijo os pés
supostos entre pensamento e movimento.
Cujo nome belo e sufocante digo com terror,
com alegria. Em que toco levemente
Imente a boca brutal.
Há mulheres que colocam cidades doces
e formidáveis no espaço, dentro
de ténues pérolas.
Que racham a luz de alto a baixo
e criam uma insondável ilusão.
Dentro de minha idade, desde
a treva, de crime em crime - espero
a felicidade de loucas delicadas
mulheres.
Uma cidade voltada para dentro
do génio, aberta como uma boca
em cima do som.
Com estrelas secas.
Parada.
Subo as mulheres aos degraus.
Seus pedregulhos perante Deus.
É a vida futura tocando o sangue
de um amargo delírio.
Olho de cima a beleza genial
de sua cabeça
ardente: - E as altas cidades desenvolvem-se
no meu pensamento quente.
Herberto Helder
03/04/2012
O tema da Salomé bíblica seduzia-o, como seduziu muitos nomes das artes do final do século XIX orientalista e decadentista, mas pela vontade de lhe acrescentar uma venenosa dimensão necrófila. Salomé era a beleza maldita, a luxúria e a histeria, era o animal monstruoso, de uma sobre-humanidade indiferente a tudo o que não satisfizesse a sua sensualidade de mulher.
[Oscar Wilde, «Salomé»]
02/04/2012
O que era preciso era continuar. Continuar a mentir o mais perfeitamente, sem qualquer deslize, usando todos os recursos da imaginação, mas agora sem o antigo prazer de derrotar a realidade, antes uma angústia cada vez maior a crescer-lhe no peito, o que o obrigava a procurar a alívio nos químicos que minuciosamente doseava, porque nada devia transparecer na sua cara que o pudesse trair. Era preciso mentir sobre a mentira e continuar. Sentia-se esgotado, mas a paixão fazia-o continuar. Se não há uma verdadeira vida também não pode haver uma verdadeira morte. Se calhar teria sempre de continuar. Este pesadelo fê-lo estremecer e abrir os olhos que julgava abertos. Escurecera. Procurou o interruptor do candeeiro e uma luz azulada encheu o quarto. Que horas seriam? Ela não devia tardar.
Levantou-se de um pulo, abriu as torneira do duche, foi à cozinha buscar um copo de água e, de pé, engoliu quatro comprimidos. Ele ia aguentar. Nada era verdade. A água corria. Ele tinha de continuar.
- Pedro Paixão, in Aflição
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