Há cidades cor de pérola  onde as mulheres
existem velozmente. Onde
às vezes param, e são  morosas
por dentro. Há cidades absolutas,
trabalhadas interiormente pelo  pensamento
das mulheres.
Lugares límpidos e depois nocturnos,
vistos ao  alto como um fogo antigo,
ou como um fogo juvenil.
Vistos fixamente  abaixados nas águas
celestes.
Há lugares de um esplendor virgem,
com  mulheres puras cujas mãos
estremecem. Mulheres que imaginam
num supremo  silêncio, elevando-se
sobre as pancadas da minha arte interior.
Há  cidades esquecidas pelas semanas fora.
Emoções onde vivo sem orelhas
nem  dedos. Onde consumo
uma amizade bárbara. Um amor
levitante. Zona
que se  refere aos meus dons desconhecidos.
Há fervorosas e leves cidades sob os  arcos
pensadores. Para que algumas mulheres
sejam cândidas. Para que  alguém
bata em mim no alto da noite e me diga
o terror de semanas  desaparecidas.
Eu durmo no ar dessas cidades femininas
cujos espinhos e  sangues me inspiram
o fundo da vida.
Nelas queimo o mês que me  pertence.
o minha loucura, escada
sobre escada.
MuIheres que eu amo  com um desespero 
fulminante, a quem beijo os pés
supostos entre  pensamento e movimento.
Cujo nome belo e sufocante digo com terror,
com  alegria. Em que toco levemente
Imente a boca brutal.
Há mulheres que  colocam cidades doces
e formidáveis no espaço, dentro
de ténues  pérolas.
Que racham a luz de alto a baixo
e criam uma insondável  ilusão.
Dentro de minha idade, desde
a treva, de crime em crime -  espero
a felicidade de loucas delicadas
mulheres.
Uma cidade voltada  para dentro
do génio, aberta como uma boca
em cima do som.
Com estrelas  secas.
Parada.
Subo as mulheres aos degraus.
Seus pedregulhos  perante Deus.
É a vida futura tocando o sangue
de um amargo  delírio.
Olho de cima a beleza genial
de sua cabeça
ardente: - E as  altas cidades desenvolvem-se
no meu pensamento  quente.
Herberto Helder