28/06/2012

    

   Conversa de Amigas...


     - encontrei
     - encontraste?
     - sim.
     - e?
     - e?... (sorrio) - e? sei lá... deixo estar.
     - deixas estar?
     - sim. de que me adianta dizer-lhe?
     - .... (silêncio)
     - não quero mais amar
     - mas é inevitável, não?
     - talvez... talvez seja inevitável... mas não preciso disso
     - como não?
     - não! não preciso de amar... não quero mais amar
     - mas... se é ele?...
     - sim (rio outra vez)... sim, é ele...
     - então?
     - então, não me atrevo a atrever sequer... e o sentimento de nada me serve.

26/05/2012


minha jovem eterna de mãos de radium minha fonte que enche a boca de estrelas
meu grande ventre de movimentos marítimos meu incêndio possuído numa cama de meteoros
meu sopro de todas as potências minhas costas de Mar e de Terra
minhas coxas de deboche minha mulher de movimentos de fuzilamento de movimentos loucos
minha flor de sangue de ferro de esperma minha destruição luminosa
minhas nádegas de noite e de loucura

MEU AMOR
Habito a lealdade dos presságios
Começo a ser um bom leito para o meu sangue

- ernesto sampaio
 
in http://belosmalditos.blogspot.pt/

19/05/2012


Nunca mais


Nunca mais
A tua face será pura limpa e viva
Nem o teu andar como onda fugitiva
Se poderá nos passos do tempo tecer.
E nunca mais darei ao tempo a minha vida.

Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
A luz da tarde mostra-me os destroços
Do teu ser. Em breve a podridão
Beberá os teus olhos e os teus ossos
Tomando a tua mão na sua mão.

Nunca mais amarei quem não possa viver
Sempre,
Porque eu amei como se fossem eternos
A glória, a luz e o brilho do teu ser.
Amei-te em verdade e transparência
E nem sequer me resta a tua ausência.
És um rosto de nojo e negação
E eu fecho os olhos para não te ver.

Nunca mais servirei senhor que possa morrer.

- Sophia de Mello Breyner